tag:blogger.com,1999:blog-78812586996711091882024-02-18T17:33:50.146-08:00Diário de um sobreviventeEdiltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-33755236525095626702010-12-20T14:15:00.000-08:002011-04-09T15:23:48.043-07:001<div align="center"><div class="caption" style="height: 300px; position: relative; width: 390px;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfrUzF2eWJ6aH3Y2gTqRIrCwCxHzY9bz_NNoq8wlfz2zJYgqBaF7vYgJ3BuW7rLf_WhjRz76uy14b3nEIJDQKpCJwPhyphenhyphenTmJ2FOK_4HjhOYljUpepxiBHSPBq48VtIqn64wnAAyxXW3afW5/s1600/doen%25C3%25A7a.jpg" width="366" /><br />
<div class="caption-text">Matéria do jornal <b>"O Popular"</b> com a primeira noticia vinculada sobre a doença</div></div></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="background-color: black;">MEU NOME É FRANCISCO EDILTON REINALDO NUNES. TENHO VINTE E SEIS ANOS E A MAIORIA DAS PESSOAS QUE UM DIA CONHECI DURANTE ESSE PERÍODO ESTÃO MORTAS. Não fui o responsável por isso. Falando sinceramente, acho que ninguém sabe ao certo quem foi o responsável por espalhar toda a coisa. Nem mesmo se houve um responsável. Talvez a coisa tivesse simplesmente desandado, fugido para fora dos padrões pré-estabelecidos pela natureza. Ou, quem sabe, ao invés disso, talvez esgueirou-se para fora, como um rato de laboratório fugindo das mãos predadoras do homem. De qualquer forma, isso não redime ou altera minha parcela de culpa, ainda que ínfima, nisso tudo. Portanto tentarei tratar sobre o assunto da maneira mais respeitável e sincera possível. Talvez minhas palavras soem um tanto quanto arrogantes as vezes, mas admito que trata-se apenas de um mecanismo de auto defesa, criado com o intuito de preservar o pouco de sanidade que ainda me resta. Diante dos acontecimentos recentes, creio que isso seja perfeitamente normal. É sinal de que ainda sou humano, passível de erros. Mas chega de lenga lenga. O intuito desse blog não é analisar meus distúrbios pessoais, e sim manter a população (faço isso na esperança de que haja alguma) informada sobre os acontecimentos recentes referentes ao que chamamos de “A praga”. Procurarei atualizar o blog diariamente, pois não sei até quando ainda poderei me dar ao luxo de usar a internet. Sem nenhum responsável pela manutenção das redes, são poucas as casas que ainda dispõem desse luxo. Tomarei o cuidado de imprimir todos os posts aqui publicados e guardarei uma cópia de segurança dos arquivos em um Pen drive, por precaução. Agora é hora de ir. Já é noite e eu ouço os passos deles lá fora. Preciso terminar de pregar as ripas nas portas e desligar o computador para que a luz não os atraia. Não é muito agradável ter que manter-se na completa escuridão quando a noite chega, mas com o tempo até com isso você se acostuma se quiser sobreviver.</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-70922841109545488642010-12-19T20:26:00.000-08:002011-04-09T15:24:11.156-07:002<div style="text-align: justify;"> Começou há pouco mais de um ano, aproximadamente. Os primeiros casos surgiram no México, em abril de 2009. O surto da doença que ficou inicialmente conhecida como “gripe suína” matou mais de 100 pessoas, mas a estimativa era a de os infectados já passavam de 1.500 em todo o mundo. No inicio não houve alarde e nem pânico, como era de se esperar. Afinal, a doença era “apenas” uma variante do vírus da gripe comum, que causava riscos para um grupo limitado de pessoas e que matava menos do que o próprio vírus da gripe comum. Entretanto, já na época, o Centro para Prevenção e Controle de Desastres dos Estados Unidos já havia avisado que era possível que esse “pequeno e controlado” surto desse origem a uma pandemia. Uma propagação da doença em escala global. O aviso não foi levado muito em conta pelas autoridades, mas no balanço que foi publicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) na manhã de 8 de maio de 2009, o numero de contaminados era de 2.384 e o numero de mortes subira para 42. E essa informação ainda nem incluía o aumento de casos na América do Norte, América Latina e Europa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dzjKW_14kBbZijYH4NTGwXqRsjItt9JX0mmptrP2ez7Y7vx9Ms31p60Su5bPggZ3VPK7ucUuPi2oozMAxl1YA' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Matéria exibida no jornal da Globo sobre a Gripe Suína</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"> Logo trataram de rebatizar a gripe. Chamaram-na de "Influenza A" (H1N1), temendo a queda vertiginosa da comercialização da carne suína, apesar das insistentes campanhas que visavam disseminar a informação de que a gripe não era transmitida pelo consumo da carne de porco. Os sintomas iniciais eram semelhantes aos da gripe comum e geralmente passavam despercebidos; Febre repentina, fadiga, dores pelo corpo, tosse, coriza, dores de garganta e dificuldade respiratória. </span></span> </div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"> </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"> Já pela metade de julho, antes do São João, com o aumento exponencial dos casos, era comum ver pessoas com mascaras de papel grudadas ao rosto, andando pelas ruas movimentadas. Campanhas educativas ensinavam que hábitos comuns de higiene, como lavar as mãos, usar lenços descartáveis ao tossir ou espirrar e evitar aglomerações ou ambientes fechados ajudava a prevenir a contaminação pelo vírus. A doença atravessou as fronteiras éticas e morais e até mesmo algumas organizações religiosas orientavam seus fieis a evitar abraços, apertos de mão ou qualquer outro tipo de contato físico, afim de evitar a propagação do vírus.</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span></span></span></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV1jaING7R4xzXCADnyneV1jDiZ9f7KfgL-_MikxvohWmmLwtU1dJ9J9O4mS3PxR2pvtv3zJ7cccIQD5KSkqqbvdwYenCk7yalUHuvKICMlagDtCcdF8MnVmI6ejURsQ_tpFog7VtmoAEw/s1600/influenza+A.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV1jaING7R4xzXCADnyneV1jDiZ9f7KfgL-_MikxvohWmmLwtU1dJ9J9O4mS3PxR2pvtv3zJ7cccIQD5KSkqqbvdwYenCk7yalUHuvKICMlagDtCcdF8MnVmI6ejURsQ_tpFog7VtmoAEw/s1600/influenza+A.jpg" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Campanha de prevenção contra o Vírus Influenza A (H1N1)</td></tr>
</tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"></span></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"> Nesse estágio intermediário da doença os grupos de risco foram os que mais sofreram. Gestantes, idosos com mais de 65 anos, crianças menores de 2 anos, doentes crônicos, asmáticos, pessoas com problemas cardiovasculares, portadores de doenças obstrutivas crônicas, com problemas hepáticos e renais, doenças metabólicas, obesos e pessoas com doenças que afetam o sistema imunológico. Foram eles os primeiros a sucumbir e também foram neles que surgiram os primeiros estágios da nova fase da doença, que disseminaria praticamente toda a população mundial.</span></span></div><br />
<div style="text-align: justify;"></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"> Antes mesmo que os pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz terminassem o mapeamento genético dos primeiros vírus Influenza A (H1N1) no Brasil, a primeira morte pelo vírus mutacionado foi registrada. Um garoto de oito anos, numa cidade do interior goiano chamada Santa Clara. No inicio pensaram que era raiva. O paciente apresentava todos os sintomas característicos da doença; Náuseas, vômitos, mal estar moderado, espasmos musculares intensos da faringe e laringe. Porém, o quadro do menino não se desenvolveu como se desenvolveria se fosse raiva. Após aproximadamente dois meses de um tratamento intensivo e desgastante houve uma melhora gradual em seu quadro de saúde. O garoto chegou a recuperar os movimentos dos braços que haviam sido perdidos em uma fase intermediaria da doença e a capacidade de comunicação fora quase que plenamente restabelecida. Teria sido o segundo caso constatado no Brasil de um paciente que conseguiu sobreviver à raiva, o quarto no mundo. Entretanto, uma semana depois o garoto veio a óbito. A autopsia não revelou resultado conclusivo algum sobre o motivo da morte, apenas instigou ainda mais a curiosidade dos pesquisadores que descobririam resquícios de uma variante do vírus Influenza A no corpo. A nova variante do vírus mostrou-se bem mais “agressiva” do que o seu antecessor e com uma incrível facilidade de propagação. As autoridades responsáveis deram o sinal de alerta. A casa do garoto, assim como todos os lugares que ele visitara durante o período em que permanecera doente, foram isolados. Em meados de outubro o vírus já havia se espalhado e feito novas vitimas. No inicio de novembro o numero de mortes já passava de 150. Cientistas do mundo inteiro tentaram isolar o vírus, evitar a propagação em massa. Usavam trajes de contenção para examinar os “infectados”. Leitos de hospitais, salas escolares e outras repartições publicas foram transformadas em unidade de terapia intensiva. Um regime de quarentena foi implantado e ninguém entrava ou saia da cidade. Muitos relembraram o acidente com o césio 137, em setembro de 1987, mas no fundo a maioria sabia que o que teríamos de enfrentar futuramente seria algo bem pior, de proporções catastroficamente maiores.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"><br />
</span></span></span></span></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTuqoOKz0wiF3jbmEXjOQddAXhrZfGIic-qRE0utOqs-mGllHehCoH83kr2aX4-nsSfW5rg1D9B9VS7rVc4YnoEfWIyshXYgZ1qNfHhzUzrrm2amhjBiKf4XX2N2cTJ8zlxLyHYhY9rb0B/s1600/roupa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTuqoOKz0wiF3jbmEXjOQddAXhrZfGIic-qRE0utOqs-mGllHehCoH83kr2aX4-nsSfW5rg1D9B9VS7rVc4YnoEfWIyshXYgZ1qNfHhzUzrrm2amhjBiKf4XX2N2cTJ8zlxLyHYhY9rb0B/s1600/roupa.jpg" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Quarentena no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia</td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: small;"></span></span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; orphans: 0; widows: 0;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"> Uma repórter de cabelos curtos, negros e lisos, com o rosto excessivamente maquiado, deu a noticia em um plantão extraordinário do jornal Anhanguera. Mais de cinquenta túmulos haviam sido violados e no lugar onde deveriam repousar seus corpos encontraram apenas caixões vazios, recobertos pela poeira do parque memorial de Goiânia. Um inquérito fora instaurado para se descobrir os responsáveis por tal afronta aos mortos. Em pouco mais de duas semanas já não havia mais repórteres trabalhando. A papelada do inquérito fora deixada de lado, diante do problema maior. A cidade estava destruída e a onda de pânico se alastrava pelo mundo. Os mortos estavam voltando à vida, seguindo a premissa básica de sobrevivência. Buscando alimento e matando.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" /></span></a></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-6224020850299068162010-12-18T17:31:00.000-08:002011-04-09T15:24:24.525-07:003<div style="text-align: justify;"> Acordei cedo. Bem mais do que eu pretendia. Tenho dormido pouco nos ultimos dias, mas não devido ao medo. É incrível como com o tempo você acaba se acostumando com a situação e passa a enxergar as coisas através de outra perspectiva. Foi o barulho que me fez acordar. Um deles derrubou uma lata de lixo em meio a sua busca infrutífera por alimento. O ruído da tampa de metal chocando-se contra o chão foi muito alto. Sou do tipo de cara que tem o sono pesado e que dificilmente acorda durante a noite, mas muita coisa mudou nas últimas semanas.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Preparei o café da manhã com os olhos ainda latejando de sono. Ovos fritos, pão integral e suco de laranja. Não tenho o costume de beber, mas nos últimos dias aprendi que uma boa taça de vinho após a refeição matinal tem um sabor revigorante. Porém, procuro fazê-lo com moderação. Não posso me dar ao luxo de perder a sanidade, mesmo que isso seja apenas resultado do excesso de álcool na corrente sanguínea.</div><div style="text-align: justify;"><br />
<br />
Quando terminei o café recolhi toda a tralha, guardando os pedaços restantes de pão junto as sobras em cima da mesa e os copos descartáveis sujos de suco de laranja e vinho em um saco plástico. Não tinha porque fazê-lo. Ninguém reclamaria ou iria se opor a um pouco de bagunça premeditada. Mas eu não sou esse tipo de pessoa. Minha época de pré-adolescente irresponsável já passara há muito tempo. A necessidade de um pouco de limpeza me revigora, acentua um pouco mais minha humanidade sempre que eu estico o rosto pela janela e vejo o mundo inteiro se deteriorando do outro lado. Manter-me limpo e organizado faz com que eu me sinta melhor do que as coisas que vigiam as ruas e caminham lá fora.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>08:17</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Tentei sintonizar alguma rádio. Buscar informações detalhadas sobre os últimos acontecimentos. Sobre a infecção e é claro, sobre outros sobreviventes, mas a única coisa que consegui ouvir foi o barulho irritante da estática. O ruído me incomoda, me deixa nervoso. Me lembra o barulho de um telefone velho, defeituoso. O tipo de aparelho pelo qual aprendi a nutrir um ódio quase mortal desde quando trabalhei em uma empresa de call Center como agente de atendimento; “Suporte técnico, Edilton, bom dia, em que posso ajuda-lo?”. A fraseologia ainda me da calafrios.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>09:10</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Vasculhei a casa inteira em busca de algo que pudesse me servir de proteção. Fiquei surpreso ao encontrar uma arma em uma cômoda no quarto do casal, ao lado da cama. Calibre 38. Quatro balas no tambor. Duas tinham sido disparadas, talvez recentemente. O cheiro de pólvora queimada no cano ainda era muito forte. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Examinei a arma com cuidado. Era grande, mais robusta do que um 38 normal. e quase que inteiramente personalizada. O cabo era recoberto por duas armações laterais de madeira impecavelmente envernizadas, contracenando perfeitamente com o metal brilhante e vivo que revestia o cano e o tambor. Na lateral direita do cabo, próximo ao gatilho, duas pequenas iniciais haviam sido marcadas, cuidadosamente esculpidas por mãos habilidosas sobre a madeira envernizada; J.R.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Examinei a outra gaveta, procurando por um documento de identidade ou qualquer outra coisa que me ajudasse a compreender o significado das iniciais gravadas na arma, mas não encontrei mais nada, além de um pedaço amassado de papel com uma receita de bolo escrita nele, um documento de isenção de matricula para o vestibular e um livro velho, de paginas amarelas e aspecto desagradável ("Cujo", de Stephen King. Coincidentemente, meu autor predileto).</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Na gaveta seguinte encontrei um porta-retratos quebrado. O vidro rachado em diversos pontos deixava o rosto das pessoas do outro lado disforme. Na foto, um garotinho de camisa listrada e cabelos loiros sorria, exibindo os dentinhos brancos com aquela incrível desenvoltura que só as crianças que ainda não tem maturidade suficiente para entender as complexas equações da vida tem. Abraçava o pai, sentado em um banquinho ao seu lado, de oculos, cabelos castanhos curtos e lisos, com ligeiros filetes brancos despontando nos cantos. Segurava uma garotinha nos braços. Ela tinha os olhos grandes e redondos. Tão verdes quanto o trecho do gramado bem cuidado em que eles se encontravam parados. Ao lado dos três, orgulhosamente parada, a que provavelmente deveria ser a mãe da garotinha. Apenas um pouco mais baixa do que o pai, tinha os cabelos crespos de uma tonalidade de vermelho natural encantador, amarrado em um coque atrás da cabeça. Pareciam felizes. Por um momento me perguntei onde estariam agora. Fariam essas pessoas parte das estatísticas? Teriam elas sucumbindo aos horrores “daqueles que voltaram?”. Ou, assim como eu, permaneciam escondidos, apenas esperando o momento certo... Mas “momento certo para o quê?”. Não havia mais esperança. O mundo inteiro fora sucumbido diante do acontecimento que futuramente veio a ficar conhecido como “A praga”. A praga dizimou 99,9% da população mundial. Não acredito, em hipótese alguma, ser o único sobrevivente, mas a porcentagem destacada pelos jornais e outros meios de comunicação antes que a coisa simplesmente ruísse é inacreditável. Precisava de respostas, mas era obvio que ali, parado, observando com curiosa atenção uma foto antiga num porta-retratos quebrado eu jamais encontraria.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT4QgYbZU1MevC44BEcVG3FalfKdyHTtolraw_nlSjdPOwLnvf9Pti5-84yXeSi4UaDU1EWljwDUlEi8HHWa1Dm0aw9baanspAsXkvaxCcU4odLuqtlPQS8nEOo7NpblwUh3KHP9XKi93s/s1600/foto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT4QgYbZU1MevC44BEcVG3FalfKdyHTtolraw_nlSjdPOwLnvf9Pti5-84yXeSi4UaDU1EWljwDUlEi8HHWa1Dm0aw9baanspAsXkvaxCcU4odLuqtlPQS8nEOo7NpblwUh3KHP9XKi93s/s320/foto.jpg" width="258" /></span></a></div><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Tirei a foto do porta-retratos com cuidado, temendo que ao menor deslize fizesse com que o papel se rasgasse, e guardei-a no bolso de trás do jeans surrado que eu usava. Em seguida examinei com um pouco mais de cuidado a arma. Abri o tanque e tirei as quatro ultimas balas que restavam. Guardei-as no bolso da frente, sentindo o frio desconfortável do metal tocar em minha pele sobre o jeans. Girei o tambor, certificando-me de que não havia mais nenhuma bala ali. Guardei a arma na cintura, escondendo-a parcialmente com a camisa, fechei a gaveta da cômoda e sai. O dia estava apenas começando e eu tinha muita coisa ainda a fazer</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>10:37</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> O sol estava excepcionalmente brilhante. Grandes ondas de calor atravessavam os telhados das casas e se não fosse pelo silencio anormal e o estado de total abandono das ruas, poderia até ser um dia agradável. Não se ouvia uma única alma viva sequer. Os cães haviam debandado, logo no inicio do processo, antes mesmo que se registrassem as primeiras mortes. Parece que a capacidade deles de farejar o perigo no ar é bem mais aguçada do que a nossa. Os pássaros também. Migraram um verão antes do Cataclisma se abater sobre nós. Criaturas espertas...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>11:30</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> O carro era um celta preto, modelo 2007. Encontrei-o com a porta amassada e o vidro traseiro estraçalhado. Poderia procurar por um veiculo melhor nas casas que permaneciam com as portas abertas, convidativas, mas achei melhor não fazer isso. Primeiro porque a chave daquele já estava na ignição. Segundo porque vasculhar locais desconhecidos, mesmo durante o dia, ainda é perigoso. Alguns deles se escondem nesses lugares, esperando pela noite por algum visitante desatento. A tática nunca funcionava, mas aquelas criaturas são persistentes, e, ao contrario do que muitos pensavam, também não são burras. Ao menos, não completamente. Tem noções básicas e instintivas de sobrevivência suficientemente fortes para mantê-los “vivos” (se é que posso usar tal termo). E além do mais, uma porta amassada e um vidro quebrado não faria tanta diferença. Não pretendo ser surpreendido em plena luz do dia, e jamais cogitei a possibilidade de sair durante a noite. Seria um erro, provavelmente fatal.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><br />
</span></span></span><br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"> Sentei no banco do motorista e dei a partida. Na primeira tentativa o motor engasgou e não pegou. Não me surpreendi. O mostrador que exibia a quantidade de gasolina do carro estava quase no zero, na zona vermelha, mas pelos meus cálculos ainda havia combustível suficiente para chegar ao próximo posto. Girei mais uma vez a chave na ignição e novamente o motor engasgou e ameaçou não pegar. Entretanto, apenas alguns segundos depois, o ruído que inicialmente fora fraco, como o arquejo de um velho moribundo em seus últimos momentos de vida, fortaleceu-se. Afundei o pé no pedal da embreagem e tirando o carro do ponto morto, acelerei. Um rugido alto e gutural saiu do motor, junto a uma torrente de fumaça negra que escapuliu do escapamento. Fechei a porta, coloquei o cinto, tendo em mente que velhos hábitos nunca morrem, engatei a primeira marcha e sai devagar, com o sol refletindo sobre o teto negro e sujo de poeira do carro.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><br />
</span></span></span><br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"> A visão ao meu redor era desoladora. Casas e prédios inteiros estavam destruídos, alguns depredados pelos vândalos na época em que “a coisa” havia se espalhado, gerando pânico.</span><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="white-space: normal;">Dirigi devagar, passando por uma rua apertada que dava, por fim, em uma grande avenida. A Avenida Anhanguera, por onde passava a antiga linha de ônibus que atravessava a cidade, de uma ponta a outra. Dos coletivos nada mais havia sobrado, há não ser pó. Cinzas grudadas pelo calor das chamas aos contornos metálicos dos ônibus queimados. Uma grande fileira de cadáveres metálicos. Alguns corpos ainda estavam dentro dos ônibus, carbonizados, misturando-se ao ferro derretido, sentados sobre as poltronas queimadas, como se esperassem pacientemente pela morte iminente. Havia crianças também. Uma delas estava deitava sobre os braços da mãe. Seus contornos ficaram quase irreconhecíveis. O maxilar proeminente caia por sobre o queixo, exibindo uma fileira de pequenos dentes bem cuidados. Era o único detalhe que não havia sucumbido por completo ao calor das chamas. Em sua cabeça uma pequena e delicada tiara de plástico derretido separava os tufos de cabelos queimados. Desviei o olhar e segui em frente, com a imagem dos ônibus queimados e da garotinha com a tiara sobre a cabeça gravadas para sempre em minha mente.</span></span><br />
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht6JuHUZIAP5vn9AkhAHOoGGHOHr_PFBy2TCojXIU02Dfsj-e1x_zP-7xBmdWlXhJgheRXxSmFxz7lg_eW8YONQh3wBGcND1j8EsyizOQTi4t6ooYbNiXBwLe4lDCt2wcmtZCcNBJcgqHj/s1600/onibus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht6JuHUZIAP5vn9AkhAHOoGGHOHr_PFBy2TCojXIU02Dfsj-e1x_zP-7xBmdWlXhJgheRXxSmFxz7lg_eW8YONQh3wBGcND1j8EsyizOQTi4t6ooYbNiXBwLe4lDCt2wcmtZCcNBJcgqHj/s320/onibus.jpg" width="320" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ônibus depredado próximo a Av. Anhanguera</td></tr>
</tbody></table><br />
Quando cheguei no posto de gasolina já passava das onze horas. O clima estava seco e ensolarado, não chovia há dias. Desliguei o carro, retirei o cinto de segurança e sai. Estacionara o veiculo ao lado da bomba de gasolina, planejando não demorar muito. Meus olhos ardiam pela falta de sono e o clima seco não ajudava.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Assim como em todos os outros lugares pelos quais eu já passara, o posto estava completamente deserto. Em um canto, uma bomba defeituosa deixava pingar álcool no chão em ralas gotas, formando pequenas, mas expressivas manchas sobre o relevo empoeirado do solo. A vitrine da loja de conveniências estava quebrada, partida ao meio pela força de um cadeira arremessada contra ela. As luzes no interior da loja estavam apagadas, o gerador provavelmente já consumira toda a energia armazenada e exalara seus últimos suspiros. Um refugio ideal, mas não para mim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Apressei-me e comecei a encher o tanque do carro, em uma das poucas bombas que ainda funcionava. Enquanto o tanque enchia, afastei-me alguns metros, deixando que uma réstia de sol que ultrapassava as telhas quebradas do posto me encontrasse. Tirei do bolso um masso surrado de cigarros e levei um deles até a boca. Do outro bolso tirei um isqueiro, já quase sem álcool e pressionei com força o botão metálico, junto a ponta do cigarro. Uma tênue faísca amarelada surgiu e sumiu da mesma maneira, misteriosa, antes mesmo que o cigarro absorvesse seu calor. Fiz outra tentativa, novamente sem sucesso. Ergui o isqueiro, irritado, contra o sol, apenas para comprovar o que eu já imaginara; O Álcool estava mesmo quase no fim. Sacudi o isqueiro, sentindo seus contornos metálicos aderirem a palma da minha mão soada como um inseto preso numa teia de aranha. Voltei a pressionar o botão, de leve, e dessa vez uma modesta, mas suficiente, chama irrompeu da ponta do isqueiro, enquanto eu permanecia pressionando-o, agora com um pouco mais de vontade. Levei-o rapidamente até a boca e apenas alguns segundos antes que a chama oscilasse e se apagasse de vez, consegui acender o cigarro. A sensação não foi, de modo alguma, prazerosa. O cheiro do cigarro era ruim e o teor elevado de nicotina deixava uma sensação de nauseante na boca. Antes mesmo de partir para a terceira tragada me senti como se estivesse mastigando um pedaço de papel queimado. A sensação de sujeira, especialmente na ponta da língua, era extremamente desagradável. Entretanto, eu precisava de algo para me apegar. Um refugio físico, uma distração fútil e sem sentido, mas ainda assim uma distração.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Inspirei a fumaça em duas ultimas e grandes tragadas, joguei a quimba do cigarro no chão, em um ponto bem distante das bombas de gasolina e voltei para certificar-me de que o tanque estava cheio.<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Desliguei a bomba e guardei a mangueira no suporte, ao lado do banco do frentista. O sol já começava a despontar no céu, lançando ondas dançantes de calor sobre o asfalto quente, quando pensei ouvir algo. Um ruido semelhante ao de passos, de pés sendo penosamente arrastados pelo chão e que vinha do interior escuro da loja de conveniências.</div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" /></span></a></div><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-60144105632394364882010-12-17T09:25:00.000-08:002011-04-09T15:24:37.278-07:00<div style="text-align: justify;"> Pensei em entrar no carro, dar meia volta e ir embora. Porém, minha curiosidade pecaminosamente burra fora maior. E se houvessem outros? E se, além de mim, outros tivessem sobrevivido a praga? Então minha longa espera por ajuda não teria sido tão infrutífera quanto eu imaginara. Viver na completa solidão nas ultimas semanas não significava necessariamente que eu fora o único sobrevivente. Talvez outros também pensassem assim. Talvez, assim como eu, também se escondessem durante a noite e boa parte do dia, esperando pelo melhor e preparando-se constantemente para o pior. </div><div style="text-align: justify;"> Enchi-me de coragem e caminhei devagar, até a porta da loja de conveniências.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Demorou para que meus olhos se acostumassem com a mudança brusca na iluminação. O lugar estava escuro. O pouco de luz que ultrapassava o buraco feito na vitrine incidia diretamente sobre o balcão no lado oposto. Ali a caixa registradora estava aberta, e as notas haviam sido espalhadas pela mesa do balcão e pelo chão sujo, grudadas a uma grossa camada de poeira. Um monitor antigo de computador estava jogado ao pé do balcão, com o vidro trincado num intrigante emaranhado de oscilações que se entrecruzavam, ao lado do teclado já desprovido de algumas teclas. Um suporte de metal caira sobre ele, esparramando os pacotes amassados de salgadinhos sobre o chão. Uma teia de aranha brilhava no canto, parcialmente desmanchada pela ação do vento e provavelmente já abandonada há muito pela sua dona.</div><div style="text-align: justify;"> - Olá... – Disse, procurando a qualquer custo controlar o tremor da voz. – Tem alguém ai?</div><div style="text-align: justify;"> Nada. Apenas o silencio monótono da devastação. Caminhei devagar por sobre os destroços, cadeiras empilhadas, pacotes de salgadinhos, refrigerantes estourados... Uma maquina havia sido quebrada com o impacto da cadeira que atravessara a janela e despejava para fora algumas latas de refrigerante quente, formando uma camada de “coca-colas”, “fantas” e “goianinhos” pelo chão. As únicas cadeiras que não estavam completamente destruídas eram as que estavam grudadas ao chão, pelo suporte de metal que atravessava o solo. Apenas uma fileira de três, no máximo quatro, em frente a TV de plasma que jazia abaixo do suporte original do qual pendera e caira. Um emaranhado de poucos fios, amarelos, azuis e verdes se desprendia do interior da TV, como cobras multicoloridas mortas, consumidas pelo horror da destruição.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> - <i>Olá... Tem alguém ai?</i> – Repeti, tomando o cuidado de espreitar cada canto obscuro, mantendo a arma pressionada de leve sobre a cintura. Não percebi, durante um primeiro momento de adrenalina inconsciente, mas meus braços tremiam. Em parte por nervosismo. Por outro lado, deveria saber que tremiam, acima de tudo, por medo. Medo de não encontrar ninguém, medo de descobrir que todas as minhas esperanças haviam sido drenadas pela ação do tempo e do vírus mortal. Medo de ter de encarar a verdade. Medo de descobrir que eu fora o único sobrevivente de uma catástrofe global e que era apenas questão de dias (talvez meses, se pensasse pelo lado positivo) para que toda a raça humana se extinguisse comigo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> - <i><b>Oláááá...</b></i> – Gritei, sem me importar que ouvissem. Que viessem todos eles. Que me atacassem e me destruíssem. Que acabassem logo com esse sofrimento e me transformassem em um deles. Ao menos assim eu me enquadraria nas estatísticas e deixaria de lado essa vida monótona e sem sentido. Todos os meus amigos estavam mortos. Todos os meus parentes, primos, tias, pais, irmãos... Todos mortos e enterrados... Por mim. </div><div style="text-align: justify;"> - <b>DESGRAÇADOS! SEUS DESGRAÇADOS FILHOS DA PUTA! </b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Apanhei alguns pacotes de salgadinho, tomando o cuidado de verificar a data de validade, e sai, encarando novamente o sol que me cegou temporariamente. Entrei no carro e voltei para casa, desviando dos corpos em decomposição largados no meio das ruas.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" /></span></a></div><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-74813740149307634732010-12-16T08:40:00.000-08:002011-04-09T15:24:49.267-07:005<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" /></span></a></div><div style="text-align: justify;"><b>18 de Dezembro de 2010.</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Acordei de um sonho perturbado, precisamente as 03:00 da madrugada, estranhando o silêncio anormal do lado de fora. Em geral eles gemem. Sons distorcidos, palavras inarticuladas que acompanhavam seus gestos desconexos, enquanto movem seus corpos devagar, sem rumo. Mas naquela madrugada não havia nada daquilo. Nada que denunciasse a presença deles do lado de fora. Teriam evoluído? Teriam tomado as devidas precauções a fim de não denunciarem a presença deles ali? Seria possível? Será que em algum ponto, num canto obscuro de suas mentes perturbadas, eles ainda eram capazes de raciocinar em um nível mais elevado do que o simples “agir instintivamente?”. Não sei. E acredito que jamais obterei a resposta para essas perguntas. Isso me aflinge um pouco. Me torna impotente diante da situação. Preciso saber um pouco mais sobre com quê estou lidando. Mas como? O pouco de informação que me foi passado morreu junto com as mídias jornalísticas. Minha fonte de conhecimento se limita a um emaranhado de jornais amassados e um caderno velho, com duas ou três paginas de anotações.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>20 de Dezembro de 2010.</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span> Depois de dois longos dias, 48 monótonas horas, eles voltaram a fazer barulho. Como a visão da câmera de segurança que eu havia instalado na noite anterior era muito limitada, tive que usar a velha e eficiente tática de olhar pelo buraco da fechadura. A luz fraca dos postes que nunca se apagava iluminava seus contornos apodrecidos. Se juntavam em um pequeno amontoado de pessoas, espreitando as portas das casas, do lado de fora, caminhando com aquele andar lento, quase hipnótico, desprovido de energia, mas extremamente enganador. Sussurravam suas palavras desconexas, em tons guturais que podem fazer até com que o sangue do homem mais corajoso do mundo gele nas veias. Seus rostos estão machucados e a pele parece querer desprender-se do corpo. Alguns não tem braços, outros não tem pernas. Se arrastam pelo chão, deixando um rastro vermelho de sangue, como cobras venenosas prontas para dar o bote. Mulheres, crianças, adultos e idosos. Nenhum deles foi poupado pela praga. Reconheci uma antiga namorada entre eles. Estava, é obvio, muito diferente. Os olhos se reviravam nas orbitas, deixando a mostra apenas o branco da esclera. Seus braços estavam largados preguiçosamente ao lado do corpo, balançando como pêndulos de um relógio cuco defeituoso. Um grande corte varava seu peito, deixando a mostra os ossos, encobertos pela camada grossa de carne, rodeada pelo vermelho-escuro do sangue coagulado. Desviei o olhar, sentindo uma furtiva lagrima escorrer por sobre meu rosto e voltei para a cama. Não consegui dormir nessa noite.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><b>23 de Dezembro de 2010.</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Eles estão se tornando mais audazes, mais corajosos. Alguns já passam grande parte do tempo procurando por comida durante o dia. Provavelmente perceberam que o sol nada pode fazer contra eles, há não ser provocar uma incomoda ardência nos olhos. E creio que para eles, tanto faz. A maioria sequer ainda usa os olhos. Sentem a presença dos outros pelo olfato, pelo tato... Seus sentidos são extremamente aguçados e por Deus... Eu juro que ontem vi um grupo deles correndo atrás de uma mulher. Ela também estava contaminada. Soube disso porque pude ver a espuma branca escorrendo dos seus lábios, por entre os dentes serrados de fúria. Um dos homens do grupo atacou-a, sem piedade, sem se importar se era ou não da sua “espécie.”. Rasgou a carne do pescoço da mulher com os dentes extremamente afiados, como se cortasse um pedaço de papel com um canivete. Os dois rolaram pelo chão, com o sol queimando seus rostos manchados de sangue. A mulher cravou as avermelhadas sobre o globo ocular do homem que urrou, mas não de dor. Me parece que eles não sentem dor. Urrou de desapontamento. Em seguida foi a vez do homem revidar. Seguindo apenas seus instintos básicos de sobrevivência saltou por sobre a mulher, jogando o peso de seu corpo obeso sobre os contornos magros da outra. Os corpos de ambos chocaram-se contra o chão duro do meio da rua com um baque surdo, o homem gordo espremeu o corpo da mulher entre o chão e o seu peito. Ergueu os braços, segurando os dela na altura dos punhos e cravou os dentes em seu rosto. Um enorme naco de carne saltou por entre seus lábios e o sangue esguichava do rosto da mulher feito tinta de um tubo de aerossol. Outra vez o homem gordo abaixou o rosto, investindo com fúria contra o da mulher. Dessa vez um dos seus olhos saltou para fora das orbitas enquanto ela se contorcia e se esperneava com o corpo preso pelo peso do homem gordo, impossibilitada de revidar. A cena se prolongou por aproximadamente 10 minutos. Nos últimos 5 a mulher já não existia mais. O que sobrara dela tornara-se irreconhecível. Apenas uma massa pastosa de carne, queimando em meio ao sol quente de verão, alimentando meia dúzia de mortos numa cidade fantasma.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdR8IW7X5O0MgWSjCvT-eyAQpRKVf_6HVSlR5lXyqdPYNfkrFqIaLR9mEv1KJFQS00ckGaoWcK7-x0jbefFVgXUIvWYAAIT4tNayRFp5tAjpyB4y_YF9aCcbTDg9_ljMZb90Msos98I736/s1600/im16wz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><img border="0" height="263" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdR8IW7X5O0MgWSjCvT-eyAQpRKVf_6HVSlR5lXyqdPYNfkrFqIaLR9mEv1KJFQS00ckGaoWcK7-x0jbefFVgXUIvWYAAIT4tNayRFp5tAjpyB4y_YF9aCcbTDg9_ljMZb90Msos98I736/s320/im16wz.jpg" width="320" /></span></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem do ataque captada pela câmera de segurança<br />
<br />
</td></tr>
</tbody></table><div><br />
</div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-66376952578221659302010-12-15T04:08:00.000-08:002011-04-09T15:25:13.124-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b><span class="Apple-style-span" style="color: #990000;">24 de Dezembro de 2010</span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;"><object class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="http://3.gvt0.com/vi/0UqEhUm2B_8/0.jpg" height="266" width="320"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/0UqEhUm2B_8&fs=1&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><embed width="420" height="366" src="http://www.youtube.com/v/0UqEhUm2B_8&fs=1&source=uds" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object></div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"> Hoje é véspera de natal e se você está lendo essa mensagem tem motivos de sobra pra comemorar. Nada de vasculhar a cidade por hoje. Vou tirar o dia para descansar, assistir um bom filme e comer besteira, como já não faço há muito tempo. Por isso serei breve no post de hoje... Tenham todos um feliz natal (se é que isso é possível, levando-se em conta a atuação situação em que o planeta se encontra) e tranquem bem as portas, estejam vocês onde estiverem.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="color: #990000;"><b>Atualizado:</b></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"> Papai noel chegou mais cedo (só espero que ele não tenho sido devorado pelos mortos) e me trouxe um presente que me surpreendeu muito, e é obvio, me deixou muito contente. Assim que inseri o formulário para contato no blog recebi um e-mail de um cara que diz também ter sobrevivido a praga. A mensagem é de dois dias atrás, mas só pude vê-la agora porque não tenho o costume de acessar com frequência minha caixa de entrada de e-mails (não tem muita coisa lá, além de spans automáticos de empresas de fundo de quintal tentando me convencer a comprar um alargador peniano – algumas pragas virtuais são tão eficientes em se propagar quanto o vírus que causou isso tudo). Segue abaixo o e-mail transcrito na integra:</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; white-space: nowrap;"></span></div><table cellpadding="0" class="cf gJ" style="border-collapse: collapse; margin-top: 0px; width: auto;"><tbody>
<tr class="UszGxc"><td class="gG" style="color: #777777; font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right; vertical-align: top; white-space: nowrap; width: 0px;"><span class="gI" style="cursor: auto; white-space: nowrap;"><b>de</b></span></td><td class="gL" colspan="2" style="font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; vertical-align: top; white-space: normal; width: 344px;"><span class="gI" style="cursor: auto;"><span class="ik" style="position: relative; top: -1px; vertical-align: top;"><img class="de QrVm3d" height="16px" id="upi" jid="lfas_snk@hotmail.com" name="upi" src="http://mail.mailig.ig.com.br/mail/images/cleardot.gif" style="height: 16px; width: 16px;" width="16px" /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #666666;"><span class="gD" email="lfas_snk@hotmail.com" style="display: inline; font-size: 13px; font-weight: bold; white-space: normal;">Luis Fernando Alves Santos</span> </span> <span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;"><<span class="go">xxxx@hotmail.com></span></span></span></td></tr>
<tr><td class="gG" colspan="2" style="color: #777777; font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right; vertical-align: top; white-space: nowrap; width: 0px;"><span class="gI" style="cursor: auto; white-space: nowrap;"><b>para</b></span></td><td class="gL" colspan="2" style="font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; vertical-align: top; white-space: normal; width: 344px;"><span class="gI" style="cursor: auto;"><span class="ik" style="position: relative; top: -1px; vertical-align: top;"><img class="de QrVm3d" height="16px" id="upi" jid="bc003770@ig.com.br" name="upi" src="http://mail.mailig.ig.com.br/mail/images/cleardot.gif" style="height: 16px; width: 16px;" width="16px" /><span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;">xxxxxxx</span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;">@hotmail.com</span></span></td></tr>
<tr><td class="gG" colspan="2" style="color: #777777; font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right; vertical-align: top; white-space: nowrap; width: 0px;"><span class="gI" style="cursor: auto; white-space: nowrap;"><b>data</b></span></td><td class="gL" colspan="2" style="font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; vertical-align: top; white-space: normal; width: 344px;"><span class="gI" style="cursor: auto;"><span class="ik" style="position: relative; top: -1px; vertical-align: top;"><img height="16px" src="http://mail.mailig.ig.com.br/mail/images/cleardot.gif" width="16px" /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;">22 de dezembro de 2010 14:49</span></span></td></tr>
<tr><td class="gG" colspan="2" style="color: #777777; font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right; vertical-align: top; white-space: nowrap; width: 0px;"><span class="gI" style="cursor: auto; white-space: nowrap;"><b>assunto</b></span></td><td class="gL" colspan="2" style="font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; vertical-align: top; white-space: normal; width: 344px;"><span class="gI" style="cursor: auto;"><span class="ik" style="position: relative; top: -1px; vertical-align: top;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;"><img height="16px" src="http://mail.mailig.ig.com.br/mail/images/cleardot.gif" width="16px" /></span></span><span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;">Estou vivo!</span></span></td></tr>
<tr><td class="gG" colspan="2" style="color: #777777; font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right; vertical-align: top; white-space: nowrap; width: 0px;"><span class="gI" style="cursor: auto; white-space: nowrap;"><b>enviado por</b></span></td><td class="gL" colspan="2" style="font-family: arial, sans-serif; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; vertical-align: top; white-space: normal; width: 344px;"><span class="gI" style="cursor: auto;"><span class="ik" style="position: relative; top: -1px; vertical-align: top;"><img height="16px" src="http://mail.mailig.ig.com.br/mail/images/cleardot.gif" width="16px" /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #cccccc;">hotmail.com</span></span></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="color: #777777; font-family: arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; white-space: nowrap;"><br />
</span></span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"> Putz... Quase não consegui mesmo acreditar que encontrei alguém vivo no meio dessa bagunça toda. Vasculhando vários sites e blogs na internet, em busca de mais informações sobre propagação do vírus, acabei topando por acidente com o seu.</span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"><br />
</span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"> Meu nome é Luis Fernando A. Santos. Tenho vinte um anos. Ultimamente não venho fazendo muita coisa, a não ser passar o tempo assistindo diversos filmes de uma locadora da qual acabei de virar proprietário... Se quiser alugar algum filme! Aquelas criaturas não tem muita cultura. Raramente aparecem por aqui. Às vezes procuram pelos filmes do Romero, mas esses já cortei. Brincadeiras a parte, isso aqui ta um inferno cara. Quase todos os dias algum “morto” da as caras e fica vagando por perto, não para locar filmes e sim pra se alimentar (nada que doses cavalares de calibre 12 não resolva, é claro. Mas mesmo assim é chato). Logo vou ter que me mudar daqui. Aqui não é muito seguro. Os malditos começaram a migrar para o meu bairro no inicio dessa semana e logo minha arma não será suficiente pra me livrar deles.</span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"><br />
</span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"> Aqui na porta da locadora tem uma caminhonete. Já a achei com a chave no banco do passageiro. Eu não tenho carteira de motorista e tenho medo de dirigir. Tão perigoso quanto um morto vivo tentando comer seu cérebro é um cara inexperiente no volante de um carro. Temos que nos encontrar Edilton!</span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"><br />
</span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"> È isso ai... Atualize suas estatísticas porque encontrou mais um sobrevivente nesse caos goiano. </span></i><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;">Abraço cara! Se cuide, e o mais importante... <b>NÃO MORRA!</b></span></i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4PUb4VEL4sM-11py7AHnHnZh6aKQ0iisIGtqZTx8bVgURWVyscyeZcLbzeWc1yjj4I46xENOlzKzF3fXezpzvMES5dG1pZ_m1Wcc0UXTX1Y8P4Jm1Trfp6Fb2i8013RokUMLAmN-7O3fJ/s1600/fundopost.jpg" /></a></div><i><span class="Apple-style-span" style="color: #999999;"><b><br />
</b></span></i></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-42449288308557395392010-03-30T15:13:00.000-07:002011-04-09T15:25:40.383-07:00<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: black; font-size: 12px; line-height: 19px;"><strong class="bbc" style="font-weight: bold !important;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">24 de fevereiro de 2011</span></strong></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #eeeeee; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;">Já se passaram dois meses desde a ultima postagem. Não que isso faça diferença. O mais provável é que essas lembranças jamais sejam lidas, que essas idéias se percam no limbo virtual que hoje é a internet. Mais provável ainda é que permaneçam esquecidas em meio ao amontoado de corpos no qual Goiânia, e muito provavelmente o resto do mundo, se transformou. O garoto do e-mail, Luis, não entrou mais em contato, assim como os poucos contatos virtuais que me faziam companhia e para os quais eu ainda nutria um certo prazer em atualizar essas informações. Creio que por isso passei tanto tempo sem postar algo novo. A coisa toda era meio que um processo natural, uma vauvula de escape que me auxiliava a descarregar a tensão do dia a dia. Quando não tive mais com quem partilhar isso, acabei deixando de lado, como uma criança que se cansa de um brinquedo novo. Meio egocêntrico não é? Talvez por isso voltei a das as caras por aqui.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Acredito que o mais difícil não seja sobreviver. Mesmo porque os ser humano é, na teoria e na prática, extremamente adaptável. Sobrevivemos a era do gelo, aos tsunamis, maremotos, enchentes, desastres naturais infindáveis que levariam a cabo a vida de qualquer outra raça menos evoluída. Somos, em suma, criaturas “duras na queda”. Sobreviver faz parte do nosso instinto natural, desde o inicio dos tempos. Viver é que é diferente, principalmente agora que todos estão mortos. O ser humano, apesar de adaptável, não foi feito para viver só, e isso é um problema dos grandes. Conversar comigo mesmo e escrever nesse post as vezes ajuda, mas não é tudo. Sinto falta de alguém que me ajude a manter a sobriedade, alguém com quem possa dividir as dores, as angustias, os receios, as alegrias (que apesar de poucas, ainda existem). Alguém com quem eu possa simplesmente sentar, num fim de tarde, num barzinho qualquer, abrir uma cerveja bem gelada, comer um porção de batatinha frita e contar piadas, jogar truco (ou até mesmo conversa fiada) até a noite cair. O tipo de coisa que faria com que eu me sentisse mais humano, diferente dos filhos da puta que estão passeando lá fora enquanto eu escrevo essas lembranças. Queria ter outras preocupações, além de ter que verificar se as taboas estão bem presas nas janelas, ou se ainda há comida suficiente para o inverno na despensa, ou se as armas ainda disparam tão bem quanto no ultimo verão. Creio que se continuar assim, talvez seja só uma questão de tempo para que eu acabe enlouquecendo de vez.<span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"> </span></span></span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #eeeeee; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><strong class="bbc" style="font-weight: bold !important;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">25 de Fevereiro de 2011.</span></strong></span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #eeeeee; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">As ruas estão, a cada dia que passa, mais inabitáveis. Ainda são poucos os que andam durante o dia, porém a marcha deles, apesar de lenta, ainda me assusta. Jamais me acostumei com seus corpos em decomposição caminhando reanimados. A morte não é engraçada, assim como a gente se acostuma a ver nos filmes b de terror. Mas não são as feridas expelindo aquele pus amarelado para fora delas que incomodam, nem o odor fétido de carne em decomposição e nem as fraturas expostas, mas sim os olhos... É nos olhos que reside o detalhe mais assustador. Apesar da condição deles, eles não estão mortos, e é nos olhos que se percebe isso. Mesmo revirados nas orbitas, estão vivos, como se perseguissem você, como se soubessem que você não é um deles e que seria uma potencial e deliciosa fonte de alimento caso fosse capturado. É como se com os olhos eles pudessem enxergar nossa alma Por isso sempre evito encará-los nos olhos, nas raras vezes em que me predisponho a caçá-los.</span></span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Durante a noite o fluxo deles é maior. Geralmente não permanecem por muito tempo aglomerados. Me parece que essas criaturas, diferente de nós humanos, possuem uma inclinação natural para o isolamento. Não possuem um sistema organizado de fala ou qualquer outro meio que seja, de comunicação, a não ser aqueles grunhidos desconexos, que ao meu ver, nada querem dizer. Raciocinam, é claro, porém num nível ínfimo de intelectualidade, o que, graças a Deus, acaba tornando minha convivência com eles um pouco mais fácil. Com base em algumas observações e anotações pessoais (além do material extra que consegui coletar pela internet – e que logo postarei por aqui, só a nível de informação - em sites do governo que agora, infelizmente estão fora do ar) pude deduzir que agem, em 99,9% dos casos, motivados por puro instinto agressivo. Quando não conseguem “carne viva”, em casos extremos, atacam a si mesmos, como pude presenciar e narrar anteriormente. O mais estranho, porém, é que a cada dia que passa o número deles diminui, de maneira natural e gradativa. No inicio pensei que estavam morrendo de fome, mas isso é impossível, levando-se em consideração que já estão mortos. Mesmo que fosse esse o caso, seus corpos deveriam estar largados aos montes nas ruas, apodrecendo no meio da droga desse sol escandante que anda fazendo ultimamente. Mas nem isso eu pude encontrar. Não há qualquer indicio que seja dos corpos deles largados pelas ruas. É como se simplesmente desaparecerem, como que por mágica. Talvez seja só impressão, mas desconfio que haja algo maior por trás disso tudo. Algum tipo de significado, não sei... A única coisa da qual eu tenho certeza, por enquanto, é que esses desgraçados metem muito medo.<span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"> </span></span></span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #eeeeee; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><strong class="bbc" style="font-weight: bold !important;"><span class="Apple-style-span" style="color: #cc0000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">27 de Fevereiro de 2011.</span></strong></span></div><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #eeeeee; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px; line-height: 19px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Preciso dormir. Tenho passado a maior parte da noite acordado, vigiando as entradas da casa de luzes apagadas. Não confio muito na integridade das ripas, apesar de saber que sempre faço um bom trabalho quando lacro as portas e janelas. O negocio é que esses bichos são fortes... Não... Eu diria que eles são EXTREMAMENTE fortes. Na semana passada mesmo, enquanto eu reabastecia o estoque de mantimentos, ouvi um ruido estranho que vinha do beco que da acesso ao quintal dos fundos da casa. Quando olhei pela fresta, por debaixo da porta, vi um deles fuçando numa lata de lixo. Triturava um pedaço podre de carne de porco com a mesma facilidade de uma criança mastigando uma goma de mascar. A carne, dura feito pedra, se desmanchava no céu da boca da coisa morta sem oferecer qualquer tipo de resistência. Os braços, repletos de ferida que jamais cicatrizariam, formavam um confortável ponto de apoio em “V”, enquanto a coisa prendia a carne por entre os dentes podres e movimentada devagar o maxilar, sem se importar com o fato de que um ou dois dentes sempre pareciam se desprender da boca a cada mordida aplicada. De repente, em um movimento brusco de corpo, como se tivesse finalmente percebido minha presença, a coisa se virou e me encarou. Seus olhos cinzas, mas de maneira alguma mortos, me encararam por debaixo da fresta. Seu nariz fungou, como se farejasse algo, enquanto meu coração parecia querer saltar para fora do peito. Repeti mentalmente, que não deveria me precipitar, que tinha de manter a calma e me afastar da porta bem devagar para não acabar entregando minha posição. Esperei pela reação, imóvel, prendendo a respiração enquanto o morto se aproximava mais ainda. Seu bafo azedo me acertou em cheio quando ele abriu a boca, ainda me farejando, ainda me sentindo. Esperei por um impulso momentâneo de raiva, um corpo morto se jogando de encontro a porta, uma mão ferida vasculhando por baixo da fresta, um urro desesperado de fome, mas graças ao meu bom Deus isso não aconteceu. A coisa se levantou e eu aproveitei para também sumir do seu campo de visão. Passou-se um longo e estranho minuto de silêncio e quanto eu voltei a olhar, dessa vez pela fechadura, a criatura já havia ido embora, deixando para trás um rastro de carne de porco podre.</span></span></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7881258699671109188.post-55981272696658434412010-03-29T15:22:00.000-07:002011-04-09T15:27:09.275-07:00<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">29 de Fevereiro de 2011</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Eu tinha uma vida antes disso tudo. Pai, Mãe e um casal de irmãos. De vez em quando eu me pego pensando neles, e por um breve momento eles deixam de ser uma lembrança distante, fragmentos de memórias que meu cérebro, na maior parte do tempo, tenta ocultar. Foi difícil ter de largá-los. Diabos... Deixá-los para trás foi talvez a pior escolha que eu já tive que fazer, mas a coisa chegou a um ponto onde não havia mais volta. O exercito havia tomado conta das ruas e Goiânia se transformara numa cidade sitiada. Os soldados (grande parte deles usava mascaras de oxigênio e roupas anti-radioativas) empilhavam os corpos aos montes e depois queimavam, ali mesmo, em praça publica, para quem quisesse (ou se atrevesse a) ver. Foi só quando vi os corpos deles queimando em meio ao sol escaldante do verão, exalando aquele odor de carne putrefada sendo consumida pelas chamas, que me dei conta do quão solitário eu me sentiria dali em diante. A historia, muito provavelmente se lembrará de mim como o filho insensível, que foi capaz de estourar os miolos da própria família, inteira, só para salvar o próprio rabo, enquanto o mundo lá fora parecia enlouquecer. Mas se você está lendo esse relato, provavelmente já percebeu que a coisa não é bem assim. Eles já estavam mortos quando eu fiz o que tinha de fazer e eu não me arrependo disso. Aquelas coisas não eram mais minha família. Meu pai, minha mãe e meus dois irmãos (que Deus os tenha) morreram bem antes, e... Por Deus! Eu juro que cuidei deles até o ultimo minuto de vida de cada um deles.</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Lembro como se fosse hoje. Era a decima primeira noite, após aquilo que os telejornais sensacionalistas haviam apelidado de “A infecção”. Um vírus altamente resistente e de incrível facilidade de propagação havia se espalhado ao redor do mundo, levando as pessoas a óbito e depois àquele estado que ninguém conseguia definir muito bem, pois as pessoas estavam mortas mas andavam por ai, feito gente viva, com seus corpos em decomposição reanimados por algo que ninguém conseguia ou saberia explicar. </div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Meu pai estava sentado em sua cadeira de balanço, usando sua velha camisa xadrez, calça jeans e fumando seu charuto, com a cabeça se espremendo para fora do boné surrado que cobria-lhe os poucos tufos acinzentados de cabelo. Apoiada sobre a perna direita, já corroída pela artrite, estava uma antiga espingarda de caça, winchester 22, de cano longo e cabo de madeira impecavelmente envernizado. Acariciava o cano da arma feito um dono ciumento dando um trato no pelo macio do seu gato. Não tirava os olhos da porta, um minuto sequer, mesmo sabendo que havíamos trancado ela por dentro com as grossas ripas de madeira, como ele mesmo nos ensinara e mandara fazer, para que assim evitássemos um ataque surpresa. </div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> Minha mãe e meus irmãos dormiam no quarto, enquanto nós dois mantínhamos vigília. Em geral, como eramos os dois homens mais velhos da casa, nos revesávamos na vigília, porém, naquela noite eu não estava com a minima vontade de ir para cama, e pelo visto ele também não. Por isso decidimos ficar até tarde, vendo o noticiário, esperando pelos plantões de urgência, já que eram nossa única fonte de informação. Naquela noite, em especial, houve apenas um plantão. O resto do tempo foi preenchido pela estática da TV, emitindo seus últimos ruídos desesperados antes que saísse de vez do ar. O que vimos foi apenas horror. Páris, Amsterdã, Bogotá, Nova Jersey, Rio de Janeiro... Nenhum lugar do mundo foi poupado. As pessoas entraram em desespero e em pouquíssimo tempo havia o caos nas ruas. Lojas foram depredadas, supermercados foram saqueados, pessoas... MUITAS pessoas se suicidaram. As que não o fizeram esperaram pela morte, pacientemente, a medida em que o mundo era tomado por aquelas criaturas. A reportar frisava que não demorou para que as informações começassem a pipocar na internet. O wikileaks, organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia e que ficou mundialmente conhecida após trazer a publico documentos confidenciais vazados do governo e imprensa, foi a responsável pela publicação do primeiro vídeo relacionado aos ataques e oficializado pelo governo norte americano. Foram poucas as informações divulgadas com relação ao vídeo, a não ser que tratava-se de uma missão de reconhecimento do exercito norte americano em território Russo (Segue abaixo o vídeo na integra).</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div style="text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="390" src="http://www.youtube.com/embed/bmkkUi4NIuQ" title="YouTube video player" width="480"></iframe></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Quantos você acha que eles são? - Perguntou meu pai, desligando a TV, pontuando sua atitude com o silêncio matinal, quebrado só pelos grunhidos desconexos das coisas que caminhavam lá fora.</div><div style="text-align: justify;">- Não sei. Muitos... Talvez, todos.</div><div style="text-align: justify;">- Acho que você não entendeu. Eu perguntei quantos você acha que são lá fora.</div><div style="text-align: justify;">- Aqui? Agora?</div><div style="text-align: justify;">- Sim.</div><div style="text-align: justify;">- Não sei. Dez. Doze... Talvez quinze, se formos otimistas.</div><div style="text-align: justify;">- Eu contei dezesseis e meio, enquanto vocês pregavam as ripas. Dois estão se fingindo de mortos... Digo... De mortos de verdade. Os outros quatorze estão dispersos, procurando carne fresca. Vi um deles, cerca de meia hora atrás, carregando as próprias tripas enquanto se arrastava.</div><div style="text-align: justify;">- O que fazemos agora? - Perguntei, imaginando a cena e tentando, ao mesmo tempo, expulsá-la de minha mente. Só conseguia pensar na segurança de minha família, principalmente nos meus dois irmãos e na minha mãe, dormindo no quarto.</div><div style="text-align: justify;">- Não sei. Por enquanto, continuamos aguentando. Como anda a comida?</div><div style="text-align: justify;">- Pouca. Acho que logo vou ter que sair pra procurar por mais.</div><div style="text-align: justify;">- E os enlatados?</div><div style="text-align: justify;">- Data de validade vencida. Por mim, tudo bem, mas as crianças não podem.</div><div style="text-align: justify;">- Nem você pode. Nenhum de nós pode. Se precisarmos de um médico não haverá a quem recorrer.</div><div style="text-align: justify;">- Tem razão.</div><div style="text-align: justify;">- E a água?</div><div style="text-align: justify;">- Acho que ainda temos o suficiente para pelo menos mais duas semanas, se soubermos racionar. - Respondi, pensando no que faríamos depois que as duas semanas finalmente passassem. Pensando em como estaríamos fodidos, quando isso acontecesse. - Pai... Não podemos ficar aqui para sempre...</div><div style="text-align: justify;"></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Ele parou, fitando a porta, provavelmente mergulhado nos recantos obscuros de sua mente imaginativa. Odiava quando ele fazia aquilo, porque sabia que algo ruim sempre precedia aquele tipo de atitude. Após um longo e incomodo minuto de silencio, vi sua mão pressionar com força o cabo envernizado da winchester.</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você viu aquilo?</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Sim. Eu vi. A maçaneta da porta estava se mexendo...</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><b>Continua...</b></div></div>Ediltonhttp://www.blogger.com/profile/15304024884279932561noreply@blogger.com0